2025-11-12 10:06:44.0

Professor da UFSCar analisa aceitação do golpe do 8 de janeiro

Discussão está no livro, em formato impresso e digital, do professor Vinício Carrilho Martinez

Por que, ainda hoje, há tanta aceitação do 8 de janeiro de 2023, como algo normal, regular, até preditivo? Essa é a pergunta central que o professor Vinício Carrilho Martinez, do Departamento de Educação (DEd) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), busca responder em seu mais novo livro, intitulado "Sociedade e Educação: Sociologia Política da Educação; Autoeducação política para a descompressão; Institucionalidades da exceção; Educação para além da exceção da exceção".

De acordo com o professor, a resposta não é simples de se demonstrar. "Seria o mesmo tipo de condicionamento que se reflete na ‘normalização de Gaza’, em 2024?", questiona o autor, que embasa sua análise com o suporte da teoria de Paulo Freire, especificamente em seu livro "Pedagogia do oprimido", a partir dos conceitos de liberdade e autonomia e também sobre o conjunto de "institucionalidades". Ele explica que "as institucionalidades são impostas, via de regra, pelo Poder Público, com o objetivo da normalização/normatização das relações sociais e institucionais, ao passo que a autonomia seguiria tutelada e a liberdade condicionada". 

Paulo Freire
Mas por que o autor utiliza a obra de Paulo Freire para analisar o episódio? "Porque, mergulhando nas estruturas e condições do que podemos chamar de luta de classes racista, os originais do livro ‘Pedagogia do Oprimido’ não somente nos trazem o Brasil de sempre de volta, como nos direcionam à urgente e necessária tarefa de aprendizado e aprofundamento conceitual - a práxis de que fala Paulo Freire". 

"Usei outros recursos de Paulo Freire", continua o autor, "mas o 'Pedagogia do Oprimido’ é um clássico contemporâneo para quem se dispõe a aprender corretamente (apreender) o que é opressão (de classe social, racial, econômica) e descompressão - sempre por meio da ação política transformadora. Felizmente, os estudantes da UFSCar já têm tomado contato com essa obra em particular". 

O conceito de "descompressão", citado pelo professor da UFSCar, "remete a algo que se oponha, que seja a antítese, o antípoda de situações, construções sociais, instituições, aparatos de Estado, que nos oprimem de algum modo". Um exemplo, segundo Martinez, seria "a ação da polícia letal que escolhe os seus alvos junto ao povo pobre, negro e oprimido - como vimos no recente massacre no Rio de Janeiro. Desse modo, a descompressão se alinha com os diversos implementos sociais, culturais, educacionais, econômicos". 

8 de janeiro
Para o professor, "o famoso e nefasto 8 de janeiro de 2023 foi uma ação terrorista de grupos civis e militares que se compuseram na forma da tipologia de organizações criminosas, agindo fortemente contra a democracia, a separação dos poderes, o Estado Democrático de Direito". Para ele, "por si, essas ações - em fase final de julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal) - merecem muitas análises e contribuições teóricas e práticas efetivas que alertem e combatam qualquer relativização, negacionismo quanto às responsabilidades já apuradas em sede judicial. Porém, notadamente para nós que vivenciamos a universidade, a educação, esse caso e outros têm reflexos maiores e possíveis danos ainda incalculados: alguns milhões de brasileiros e de brasileiras ainda se ‘identificam’ com aqueles atos terroristas". Nesse sentido, há, na visão do professor da UFSCar, "uma confusão generalizada e propositalmente formulada".

Reflexões
O estudo é "de ordem conceitual, intuitivo, e ainda promove alguma análise de conjuntura - por isso usamos os fatos do cotidiano, interpelando a realidade que nos cerca no século XXI", afirma Martinez.

"Minha conclusão antecipada", aponta, "é no sentido de que nos falta uma educação política de qualidade, e que seja contra o messianismo dos envolvidos no 8 de janeiro, bem como atue para desestimular o sectarismo de uma parte dos acadêmicos - que produzem críticas do nível do senso comum em direção a Paulo Freire".

Segundo o autor, o texto atendeu a uma exigência de pesquisa de pós-doutorado. "Somente depois tive a perspectiva de que poderia ser publicado no formato de livro. Apesar de conter algumas reflexões um pouco mais eletivas, como o conceito de ‘normalização da exceção’, o livro pode ser lido por estudantes, pesquisadores, docentes e militantes de movimentos sociais populares. 

Sobre a obra
O livro "Sociedade e Educação", de Vinício Carrilho Martinez, com 131 páginas, foi lançado no dia 29 de outubro e está disponível no site da Amazon (https://amzn.to/47VEO7o) no formato impresso e digital (este em valor simbólico de US$ 1, cerca de R$ 5,35).

anexos:

Capa do livro (Imagem: Reprodução)
Contato para esta matéria: Denise Britto  Telefone: (16) 33066779  
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