2025-08-21 12:35:03.0

Trabalho premiado discute criminalização do homem negro no Brasil

Pesquisa de estudante da UFSCar recebeu prêmio Jonathas Salathiel de Psicologia e Relações Raciais

O que leva ao encarceramento desproporcional de homens negros brasileiros? Essa foi umas das questões norteadoras do estudo de Maria Luiza Soares Rodrigues, estudante de graduação em Psicologia da UFSCar, reconhecido no III Prêmio Jonathas Salathiel de Psicologia e Relações Raciais, do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (CRP-SP). A pesquisadora concorreu na categoria "Estudantes de Psicologia - Práticas Acadêmicas", com o trabalho intitulado "A criminalização da masculinidade negra e a naturalização da violência".

A premiação ocorreu na cidade de São Paulo, no último dia 2 de agosto, durante o X Congresso Latino-Americano de Psicologia.

O trabalho de monografia, que contou com orientação da professora Sabrina Mazo D'Affonseca, do Departamento de Psicologia (DPsi), foi desenvolvido nos anos de 2023 e 2024, na Central de Atenção à Pessoa Egressa e Família de São Carlos. 

O objetivo foi discutir como o racismo estrutural e a socialização masculina impactam a vida de homens negros no Brasil ao limitar o sujeito a uma performance da masculinidade muitas vezes violenta, o que pode contribuir para a criminalidade. "As limitações e expectativas impostas socialmente aos homens podem, muitas vezes, estar relacionadas com a performance da dominância e do poder, mas é impossível ignorar o marcador de raça no qual homens negros são socializados", detalha Maria Luiza Rodrigues. 

"Durante o processo de desumanização da população negra mundialmente, houve uma disseminação da ideia do ‘negro violento’, a partir do racismo científico praticado no século XIX. Esse foi um fator decisivo no movimento de encarceramento e institucionalização em massa da população negra". Para ela, "a marginalização do negro é inegável, e existe uma relação dialética e interssecional envolvida entre a masculinidade e a negritude", conclui a estudante. 

Experiências na infância
O trabalho fez, ainda, um resgate histórico das experiências adversas de homens negros com histórico de privação de liberdade, buscando compreender as variáveis que contribuíram para o comportamento criminoso, através da aplicação do Questionário Internacional de Experiências Adversas na Infância (EAI-QI) e de entrevistas com os participantes. 

"Em relação às experiências adversas na infância vividas por homens negros com histórico de privação de liberdade, a pesquisa revelou que todos os participantes sofreram situações de vulnerabilidade (social, familiar, econômica etc.) numa taxa maior, entre 7 e 10 pontos, do que a média corte (4 pontos) proposta pela literatura. Dentre estas, algumas experiências foram comuns a todos os participantes, como morar com membros da família que já estiveram/estavam presos, bem como sofrer violência comunitária e violência coletiva. Ao estar imerso num contexto como este, acabam sofrendo um processo de naturalizar a violência como uma ferramenta de resolução e sobrevivência. Como cito no artigo, ‘criminalizamos a masculinidade ao invés de entendê-la como resultado de processos sociais e vivências subjetivas’".

Os resultados do estudo indicaram que um histórico de alta exposição a experiências adversas na infância, vulnerabilidades socioeconômicas e socialização de gênero contribuíram para trajetórias que levaram à criminalidade. Com isso, o trabalho discute "a necessidade de um olhar multidimensional para evitar o encarceramento desproporcional de homens negros brasileiros", conclui Rodrigues.

Sobre o Prêmio
Criado em 2018, o Prêmio Jonathas Salathiel é uma iniciativa do CRP-SP que incentiva a produção de artigos na área da Psicologia que abordem a violência causada pelo racismo e promovam reflexões sobre as relações raciais na perspectiva da saúde mental. 

O psicólogo Jonathas José Salathiel da Silva (1974-2015) se tornou conhecido por sua atuação marcante na área de saúde pública e pela militância em movimentos populares dedicados ao enfrentamento da discriminação racial.

A lista completa dos premiados pode ser acessada neste link. Haverá, também, a publicação do livro digital "III Prêmio Jonathas Salathiel de Psicologia e Relações Raciais" com todos os trabalhos selecionados, com lançamento previsto no dia 26 de setembro, e acesso gratuito no site www.crpsp.org.br/PremioJonathas.

Para saber mais sobre o trabalho, basta entrar em contato direto com a pesquisadora Maria Luiza Soares Rodrigues pelo WhatsApp (11) 94522-1088 ou e-mail mrodrigues@estudante.ufscar.br.
Contato para esta matéria: Denise Britto  Telefone: (16) 33066779  
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Baseada no trabalho de www.comunicacao.ufscar.br
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