Mês do Orgulho na UFSCar: tempo de visibilidade, reflexão e resistência
Programação do Orgulho LGBTQIAPN+ se consolida como ação política, pedagógica e afetiva na Universidade
Junho é muito mais do que o Mês do Orgulho LGBTQIAPN+: é tempo de visibilidade, reflexão e resistência. Na UFSCar, as comemorações ganharam força como expressão do compromisso com a diversidade, os direitos humanos e a construção de um ambiente universitário mais justo e inclusivo. Em um cenário ainda marcado por desigualdades e preconceitos, celebrar o orgulho é também afirmar existências, reivindicar espaços e fortalecer redes de apoio. Ao longo de todo o mês de junho, a comunidade acadêmica foi convidada não só a festejar, mas também a pensar criticamente sobre os avanços, os desafios e as lutas que seguem pulsando no cotidiano das pessoas LGBTQIAPN+.
"Vivemos em uma sociedade estruturalmente LGBTFóbica e os dados comprovam essa realidade. Infelizmente, o Brasil continua entre os países que mais violentam pessoas LGBTQIAPN+. A universidade, enquanto reflexo da sociedade, não está isenta dessas violências: ela reproduz estigmas, discriminações e exclusões, seja de forma explícita, seja de maneira sutil e velada", afirma Thiago Loureiro, Coordenador de Diversidade e Gênero, da Secretaria Geral de Ações Afirmativas, Diversidade e Equidade (SAADE), da UFSCar.
Para Loureiro, "é importante reconhecer que ninguém nasce homofóbico ou transfóbico - esses comportamentos são aprendidos e, portanto, podem (e devem) ser desconstruídos. E a educação desempenha um papel essencial. É por meio dela que podemos revisar concepções equivocadas sobre diversidade, promover o respeito à diferença e construir um ambiente verdadeiramente inclusivo e seguro para todas as existências LGBTQIAPN+".
Nessa direção, a Administração Superior da UFSCar tem empenhado esforços na construção de uma Universidade cada vez mais diversa e inclusiva. Recentemente, foram aprovadas pelo Conselho Universitário (ConsUni) políticas relevantes para a promoção da diversidade e inclusão: a Política de Prevenção, Redução e Mitigação de Danos da Violência; a Política de Identidade de Gênero e a Resolução ConsUni Nº 9/2024, que determina procedimentos em casos de diferentes tipos de violência, incluindo a de gênero e sexualidade. Em abril de 2025, o ConsUni também aprovou por aclamação a Política de Acesso e Permanência de Pessoas Trans na Graduação.
"Por intermédio da Coordenadoria de Gênero e Diversidade da SAADE, em parceria com outras instâncias institucionais, a UFSCar tem desenvolvido campanhas de combate à LGBTfobia, oficinas de sensibilização, cartilhas informativas com produções protagonizadas por pessoas LGBTQIAPN+, e também, temos realizado atividades de formação e diálogo com a comunidade acadêmica. O Projeto de Desenvolvimento Institucional (ProDIn) Acolhe UFSCar, proposto pela SAADE e pela Coordenadoria de Articulação em Saúde Mental (CASM), vinculado à Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários e Estudantis (ProACE), também desenvolve ações de acolhimento da comunidade LGBTQIAPN+ nos quatro campi da Universidade", destaca Loureiro.
Teve muito orgulho nos quatro campi Para celebrar, refletir e fortalecer a existência LGBTQIAPN+ com muito amor, cultura e diversidade, os quatro campi da UFSCar estiveram repletos de atividades ao longo do mês de junho. "Mais do que um momento de festa, a programação do Orgulho LGBTQIAPN+ dentro do ambiente universitário é uma ação política, pedagógica e afetiva. Celebrar a diversidade é também reconhecer que ela é fruto de uma história marcada por resistência, enfrentamento à violência e afirmação de existências que por muito tempo foram silenciadas e apagadas", defende Loureiro.
Em Araras, teve Cine Curta, com a exibição de "In France, Michele is a Man's Name"; a 1ª Mostra Fotográfica e Literária "Corpos que Resist(em): Retratos de Existência LGBTQIAPN+"; a 2ª Feira da Diversidade - Arte, cultura e representatividade!; a palestra "LGBTfobia e seus impactos"; e a roda de conversa "Nosso Lugar no Mundo: Direitos, Desafios e o Caminho a Seguir". Em Araras, "tem sido muito potente a articulação das atividades junto aos movimentos sociais do município, inclusive com ações e intervenções extra-campus", aponta o Coordenador.
Já em Sorocaba, de 23 a 27 de junho, o campus foi ocupado com afeto, arte, debate e resistência. A programação contou com palco livre para expressão das potências da comunidade LGBTQIAPN+; cinedebate, com o tema "Transições e Travessias"; apresentação de pesquisas do Núcleo de Estudos de Gênero, Diferenças e Sexualidades (NEGDS-UFSCar); roda de conversa sobre mulheres lésbicas e bissexuais no mundo acadêmico; e festa junina com muito brilho e orgulho.
Lagoa do Sino sediou o Encontro do Orgulho LGBTQIAPN+, um momento de escuta, acolhimento e partilha, com as psicólogas Carolina Aguiar, Daiane Lima e Danielle Gonzalez, para acolher e debater os cuidados com a saúde mental da comunidade LGBTQIAPN+. Além disso, a Cia de Teatro Pirilampos, da cidade de Itapeva, apresentou excertos da peça "Homem com H", trazendo a história de Ney Matogrosso. Após a apresentação, as pessoas se reuniram para a roda de conversa intitulada "O que é ser LGBTQIAPN+ na Lagoa do Sino", em que estudantes e servidores puderam compartilhar suas experiências e percepções.
Em São Carlos, o Projeto OPLU, que oferece oficinas quinzenais para a prevenção da LGBTfobia na Universidade, realizou Tertúlia Dialógica Científica com o debate do artigo "Saindo da Torre de Marfim: a prevenção de violência baseada na orientação sexual e identidade de gênero na universidade"; Vídeo-Fórum Dialógico, com a exibição do documentário "A Morte e Vida de Marsha P. Johnson", a travesti que foi (e ainda é) um ícone fundamental na luta pelos direitos LGBTQIAPN+; e a roda de conversa intitulada "Ações de diversidade na UFSCar: a experiência da SAADE". A programação em São Carlos também contou com o I Ciclo de Palestras do Orgulho na Vida Universitária, com a proposta de promover diversidade, respeito e pertencimento no ambiente acadêmico.
"Com tudo isso, o Mês do Orgulho na UFSCar buscou promover visibilidade, valorização e reconhecimento das vidas, produções acadêmicas, artísticas e culturais da população LGBTQIAPN+. Por meio de ações educativas, rodas de conversa, oficinas, debates e intervenções culturais, criou-se um espaço de escuta, sensibilização e formação de toda a comunidade acadêmica. Além disso, a programação tem fortalecido a organização de coletivos LGBTQIAPN+ nos diferentes campi da UFSCar, articulando redes de apoio e promovendo conexões com movimentos sociais e entidades da sociedade civil. Há muita potência nesses encontros", afirma Loureiro.
Para ele, celebrar o orgulho é, acima de tudo, afirmar que todas as formas de ser e amar têm lugar na Universidade. "Mas, é imprescindível que as ações de diversidade e inclusão transcendam o calendário simbólico e se consolidem como práticas permanentes no cotidiano universitário. As Políticas Institucionais de Diversidade e Inclusão da UFSCar têm papel fundamental nesse processo, ao garantir não apenas o acesso, mas também a permanência e o bem-estar dessas pessoas. Mais do que promover acolhimento, é essencial que a universidade se constitua como um espaço onde todas, todes e todos queiram estar, pertencer e florescer", conclui.