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Cidades
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Monte Aprazível é uma cidade cercada pelo mau cheiro. De um lado, duas estações de tratamento de esgoto da Sabesp, uma delas dentro do perímetro urbano, que espalham odor de fezes. De outro, o gás sulfídrico, produto tóxico com cheiro semelhante ao de ovo podre despejado na atmosfera pelo curtume Minerva. De acordo com a Companhia Ambiental do Estado (Cetesb), pelo menos oito bairros da cidade têm sido afetados pelo fedor. Neste ano, o curtume recebeu duas multas do órgão, que totalizam R$ 49,2 mil.

O problema, dizem os moradores, se acentua no início da noite. “Chega a hora da janta e a gente nem consegue comer de tanta carniça. Tem dia que dá dor de cabeça e enjoo”, reclama a aposentada Nilza Tula, 71 anos, moradora do bairro Renascer. A casa dela fica a poucos metros da antiga ETE. Desativada no ano passado, a estação, apelidada de “penicão” pelos moradores, conserva parte dos resíduos na lagoa de tratamento, foco do mau cheiro. No Jardim das Palmeiras, o fedor é semelhante, só que provocado pelo gás sulfídrico exalado pelo curtume. “Há duas semanas tive de dormir em Rio Preto porque minha mulher não aguentava o fedor, estava passando mal”, diz o juiz aposentado Robledo Matos Alves de Morais.

De acordo com o professor do departamento de química da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) Alzir Azevedo Batista, o gás sulfídrico, derivado do enxofre, é altamente tóxico. “É mais prejudicial à saúde do que o monóxido de carbono”, diz. Em altas concentrações, o gás pode provocar danos permanentes no sistema nervoso e paralisar os pulmões.

Ação civil pública

A fedentina ressuscitou o imbróglio que envolve o funcionamento do curtume. Alvo de uma ação civil pública pela deposição irregular no solo de resíduos decorrentes do processamento do couro, como chumbo e cromo, o curtume firmou um termo de ajustamento de conduta (TAC) com o Ministério Público se comprometendo a regularizar a situação. Mas o acordo foi descumprido, e o Minerva chegou a ser interditado pela Justiça em agosto do ano passado, além de ser condenado a pagar multa de R$ 334,5 mil. Dois meses depois, com o aval da Cetesb, voltou a operar. Mas aí surgiu o problema do mau cheiro.

Hoje pela manhã o Ministério Público promove audiência na Câmara Municipal para discutir o assunto. No evento, a Cetesb vai entregar à promotora Daniele Ramia Negrão um estudo sobre o caso. Foram entrevistados 104 moradores de oito bairros. 77 reclamaram do mau cheiro, e 46 apontaram o curtume como a origem do problema. Com base na audiência, a promotora vai decidir se pede ou não um novo fechamento da empresa à Justiça. “É um problema grave, que tem gerado muitas reclamações na cidade”, diz Daniele.

Apesar do desconforto, não houve neste ano nenhum atendimento médico decorrente da inalação do gás, de acordo com a enfermeira-chefe da Santa Casa de Monte Aprazível, Liliani Arangues. Logo após a audiência, um grupo de 20 moradores deve protocolar um pedido de interdição do curtume no Ministério Público. “Do jeito que está não pode ficar”, diz o juiz aposentado. 

‘Mau cheiro foi isolado’

O gerente industrial do Minerva Couros, Alesandro Dalapria, atribuiu o mau cheiro que incomoda a população aos produtos tóxicos desenterrados do fundo da oficina do curtume, em abril. Segundo ele, foram retiradas 2 mil toneladas de resíduos do local, conforme exigência da Cetesb e do Ministério Público. “O cheiro veio desse material, que desenterramos em abril”, disse Dalapria. A informação, no entanto, é desmentida pela promotora Daniele Ramia Negrão. “Os moradores reclamavam do mau cheiro antes da retirada dos resíduos, e continuam reclamando depois”, afirma.

Os estragos ao meio ambiente pelo curtume datam de seis anos. Em 2004, a Cetesb constatou mortandade de peixes no rio São José dos Dourados por dejetos químicos lançados pelo curtume. A empresa foi multada em R$ 7,5 mil na época. Dois anos depois, 11 ex-funcionários ingressaram com ação na Justiça Trabalhista alegando ter sido expostos a materiais tóxicos dentro do curtume. Um deles denunciou que dejetos do processamento do couro estavam sendo enterrados no local. A irregularidade motivou ação civil pública onde foi firmado o atual acordo entre a Promotoria e a empresa para a retirada dos dejetos e o fim da poluição do ar com gases tóxicos.

Sabesp

Em nota, o gerente da Sabesp Eder Toyodi Yoshimatsu negou o fedor na antiga ETE. “Não temos registros de ocorrências de mau cheiro na antiga estação de tratamento de esgotos, que está em processo de desativação”, afirma Yoshimatsu. A empresa não se pronunciou sobre a suspeita de mau cheiro também na nova estação de tratamento de esgoto.
Gênero:
Matéria
Classificação:
UFSCar
Autor:
ALLAN DE ABREU
Pessoa citada/ entrevistada:
Alzir Azevedo Batista
Palavras-chave:
Monte Aprazível; Mau cheiro; Estações; Tratamento; Esgoto; Sabesp;
Gás tóxico de curtume incomoda moradores

Ministério Público estuda pedir à Justiça a intervenção na empresa

Diário da Região São José do Rio Preto-SP em 2010-05-12 00:00:00.0
