Clipping

Texto na íntegra:

Menos de 10% das travestis e transexuais brasileiras conseguem sobreviver sem recorrer à prostituição, um mercado para o qual são empurradas pela discriminação e a consequente falta de qualificação profissional. Mas, mesmo para essa minoria que alcança o sonho de ter uma carteira de trabalho, ainda faltam grandes passos para a cidadania completa, como a possibilidade de exercer algumas profissões de nível superior, a autorização para usar o banheiro feminino e o direito de serem chamadas pelo nome de mulher.
 
“O nome é um dos maiores desafios para as pessoas trans no mercado de trabalho”, afirma a pedagoga Sandra Munhoz, coordenadora da Casa Lilás, um projeto social de acolhimento a pessoas trans com recursos da Organização das Nações Unidas (ONU), que deve abrir as portas ainda neste semestre.
 
Um dos objetivos da casa vai ser ajudar as 80 pessoas trans que abrigará a visualizar um futuro melhor, que não dependa das ruas. Modelos de sucesso existem.
 
A argelina Youcef Nabi foi a principal executiva da Lancôme e depois da L’Oréal Paris, entre 2006 e 2013. No ano passado, o CEO mais bem remunerado dos Estados Unidos foi uma transexual, Martine Rothblatt.
 
Sandra destaca que a maioria das travestis não está feliz em recorrer à prostituição e sonha com uma vida comum, de casa, trabalho e família. “Não há nada errado com a prostituição, mas não pode ser o único caminho”, afirma Ella Vieira, uma estudante de pedagogia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), nascida em Sorocaba (SP), que deixou a cidade três anos depois de se descobrir trans.
 
Salvador parecia uma aposta segura para começar uma nova vida. Aqui ela fez amigos, retomou o curso interrompido na Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) e conseguiu um trabalho como recepcionista de um café e pousada na Barra. Mas a dificuldade em atuar na área de educação a levou a decidir pela volta a seu estado no próximo mês de junho.
 
“Quando deixo currículo em uma escola e sou chamada para entrevista, a conversa acaba quando falo que sou trans”, afirma Ella. A estudante acredita que em São Paulo vai ter maior possibilidade de realização profissional.
 
Mahylle Santana, 20 anos, já trabalhou em projetos sociais e foi auxiliar administrativa em uma grande instituição de ensino superior de Salvador, onde o seu grande problema era que os colegas respeitassem a sua condição feminina e a chamassem não pelo nome de registro, mas pelo seu nome social.
 
“Apenas o SUS permite que os trans sejam identificados pelo nome social. Toda a documentação restante é feita com base no nome de registro”, pontua Sandra Munhoz.
 
Em um evento em defesa dos direitos da comunidade LGBT (Lésbicas, gays, bissexuais e trans), Sandra conheceu Mahylle Santana e depois de algum tempo a convidou para trabalhar como recepcionista na futura Casa Lilás.
 
Um novo começo para uma trans que não conseguiu um trabalho em um call center, entre outras coisas, porque não conseguiu garantias de que poderia usar o banheiro feminino.
 
Uma demanda que parece elementar para uma pessoa saindo da adolescência e em busca de sua afirmação como ser humano. Mas para jovens como Ella e Mahylle na luta para alcançar a dignidade profissional, conquistada por Youcef e Martine, há um longo caminho.
 
Mercado ainda está na fase de consolidar direitos dos gays, diz analista de RH
 
A diretora de responsabilidade social da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), Luciana Maia Abud, considera que a inserção das pessoas trans no mercado de trabalho ainda se restringe a poucas áreas em que a sociedade aceita a sua presença, como salões de beleza e atividades culturais.
 
“Na verdade, o mercado ainda está na fase de consolidar a aceitação dos homossexuais nas empresas”, avalia Luciana, que considera a Bahia um estado relativamente aberto à presença de gays no mercado, em comparação a outros lugares. Mas ela ainda vê muito preconceito quanto à aceitação de trans.
 
Quanto à estratégia para conseguir emprego, a analista acredita que o melhor caminho é que tanto candidato quanto empresa joguem aberto quanto às chances de contratação.
 
“As empresas têm uma limitação legal, que impede a discriminação. Mas ainda assim acredito que o melhor jeito é conversar francamente para que o candidato saiba quais são as suas chances de ingressar na empresa e os empregadores digam o que esperam de seus funcionários.
 
Por outro lado, Luciana ressalta que as empresas precisam começar a se preocupar cada vez mais em relação ao respeito à diversidade para dar conta da pressão social. Ela acredita que a sociedade vai exigir que os direitos de todas as pessoas sejam respeitados.
 
“E você não deveria dispensar um talento por causa de questões de gênero e sexualidade”, afirma a diretora da ABRH.

Gênero:

Matéria

Classificação:

UFSCar

Sub-classificações:

Citações Alunos ou Ex-alunos

Autor:

Gilson Jorge

Pessoa citada/ entrevistada:

Ella Vieira

Palavras-chave:

Transexuais;estigma;profissional;gênero;sexo;travestis;prostituição;mercado;discriminação;nome;Casa

Transexuais lutam contra estigma profissional

Pessoas que assumiram nova identidade de gênero batalham para desassociar imagem do comércio de sexo

A Tarde Salvador-BA em 2015-05-03 00:00:00.0

Texto na íntegra:	Menos de 10% das travestis e transexuais brasileiras conseguem sobreviver sem recorrer à prostituição, um mercado para o qual são empurradas pela discriminação e a consequente falta de qualificação profissional. Mas, mesmo para essa minoria que alcança o sonho de ter uma carteira de trabalho, ainda faltam grandes passos para a cidadania completa, como a possibilidade de exercer algumas profissões de nível superior, a autorização para usar o banheiro feminino e o direito de serem chamadas pelo nome de mulher. “O nome é um dos maiores desafios para as pessoas trans no mercado de trabalho”, afirma a pedagoga Sandra Munhoz, coordenadora da Casa Lilás, um projeto social de acolhimento a pessoas trans com recursos da Organização das Nações Unidas (ONU), que deve abrir as portas ainda neste semestre. Um dos objetivos da casa vai ser ajudar as 80 pessoas trans que abrigará a visualizar um futuro melhor, que não dependa das ruas. Modelos de sucesso existem. A argelina Youcef Nabi foi a principal executiva da Lancôme e depois da L’Oréal Paris, entre 2006 e 2013. No ano passado, o CEO mais bem remunerado dos Estados Unidos foi uma transexual, Martine Rothblatt. Sandra destaca que a maioria das travestis não está feliz em recorrer à prostituição e sonha com uma vida comum, de casa, trabalho e família. “Não há nada errado com a prostituição, mas não pode ser o único caminho”, afirma Ella Vieira, uma estudante de pedagogia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), nascida em Sorocaba (SP), que deixou a cidade três anos depois de se descobrir trans. Salvador parecia uma aposta segura para começar uma nova vida. Aqui ela fez amigos, retomou o curso interrompido na Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) e conseguiu um trabalho como recepcionista de um café e pousada na Barra. Mas a dificuldade em atuar na área de educação a levou a decidir pela volta a seu estado no próximo mês de junho. “Quando deixo currículo em uma escola e sou chamada para entrevista, a conversa acaba quando falo que sou trans”, afirma Ella. A estudante acredita que em São Paulo vai ter maior possibilidade de realização profissional. Mahylle Santana, 20 anos, já trabalhou em projetos sociais e foi auxiliar administrativa em uma grande instituição de ensino superior de Salvador, onde o seu grande problema era que os colegas respeitassem a sua condição feminina e a chamassem não pelo nome de registro, mas pelo seu nome social. “Apenas o SUS permite que os trans sejam identificados pelo nome social. Toda a documentação restante é feita com base no nome de registro”, pontua Sandra Munhoz. Em um evento em defesa dos direitos da comunidade LGBT (Lésbicas, gays, bissexuais e trans), Sandra conheceu Mahylle Santana e depois de algum tempo a convidou para trabalhar como recepcionista na futura Casa Lilás. Um novo começo para uma trans que não conseguiu um trabalho em um call center, entre outras coisas, porque não conseguiu garantias de que poderia usar o banheiro feminino. Uma demanda que parece elementar para uma pessoa saindo da adolescência e em busca de sua afirmação como ser humano. Mas para jovens como Ella e Mahylle na luta para alcançar a dignidade profissional, conquistada por Youcef e Martine, há um longo caminho. Mercado ainda está na fase de consolidar direitos dos gays, diz analista de RH A diretora de responsabilidade social da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), Luciana Maia Abud, considera que a inserção das pessoas trans no mercado de trabalho ainda se restringe a poucas áreas em que a sociedade aceita a sua presença, como salões de beleza e atividades culturais. “Na verdade, o mercado ainda está na fase de consolidar a aceitação dos homossexuais nas empresas”, avalia Luciana, que considera a Bahia um estado relativamente aberto à presença de gays no mercado, em comparação a outros lugares. Mas ela ainda vê muito preconceito quanto à aceitação de trans. Quanto à estratégia para conseguir emprego, a analista acredita que o melhor caminho é que tanto candidato quanto empresa joguem aberto quanto às chances de contratação. “As empresas têm uma limitação legal, que impede a discriminação. Mas ainda assim acredito que o melhor jeito é conversar francamente para que o candidato saiba quais são as suas chances de ingressar na empresa e os empregadores digam o que esperam de seus funcionários. Por outro lado, Luciana ressalta que as empresas precisam começar a se preocupar cada vez mais em relação ao respeito à diversidade para dar conta da pressão social. Ela acredita que a sociedade vai exigir que os direitos de todas as pessoas sejam respeitados. “E você não deveria dispensar um talento por causa de questões de gênero e sexualidade”, afirma a diretora da ABRH.
Gênero:	Matéria
Classificação:	UFSCar
Sub-classificações:	Citações Alunos ou Ex-alunos
Autor:	Gilson Jorge
Pessoa citada/ entrevistada:	Ella Vieira
Palavras-chave:	Transexuais;estigma;profissional;gênero;sexo;travestis;prostituição;mercado;discriminação;nome;Casa