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Opinião
Texto na íntegra:
A Paleontologia estuda origem e evolução da vida na Terra, por meio dos fósseis. A Zooarqueologia é um ramo da Arqueologia que estuda as relações que os seres humanos estabeleceram com os animais, no passado. O objeto de estudo do zooarqueólogo é o vestígio arqueofaunístico: fragmentos de ossos de animais, conchas ou qualquer indício que reflita padrões alimentares e outros usos que os seres humanos fizeram da fauna, como domesticação, força motriz e mascotização.

Estudos zooarqueológicos também apresentam um importante viés na reconstituição de paisagens pretéritas, microevolução e distribuição animal. Neste sentido, a Zooarqueologia figura como uma ponte entre a Paleontologia e a Arqueologia.
Uma vez que questões culturais, sociais e econômicas se entrelaçam com as abordagens das Ciências Biológicas, em sua formação, o zooarqueólogo deve ter habilidades multidisciplinares e ser capaz de dispor de métodos e pressupostos teóricos de ciências já consagradas, como a Antropologia, a Paleontologia, a Ecologia e a Evolução.

Atualmente, a Biologia da Conservação é uma área promissora para zooarqueólogos (e também para paleontólogos). Publicações recentes discutiram a importância da Paleontologia e da Zooarqueologia na investigação dos padrões de variação espacial de comunidades biológicas e na determinação de áreas prioritárias para a conservação. Em especial em países como os Estados Unidos, é crescente o número de estudos que considera relevante o entendimento mais detalhado da história das intervenções humanas no ambiente para melhor aplicação das metodologias de Biologia da Conservação. Deste modo, os cientistas do passado têm a oportunidade de expandir seus horizontes analíticos na insuficientemente explorada área do manejo da vida selvagem, por meio de sua perspectiva única da Pré-história: promovendo uma leitura espacial/temporal da alteração da paisagem pelas sociedades humanas que reflita em ações sobre a conservação da diversidade biológica.

No Brasil, o campo de atuação zooarqueólogo é bastante promissor, tanto em universidades e centros de pesquisa, quanto no mercado das consultorias ambientais. Esta é uma área em franco desenvolvimento, que, por carecer de profissionais, ainda não produziu especialistas. Em outras palavras, no Brasil não existem zooarqueólogos especialistas em ossos de roedores, tampouco em esqueletos de mamíferos. Temos que lidar com uma grande diversidade biológica refletida no registro arqueológico, de diferentes sítios arqueológicos, nas mais variadas regiões do país. Assim, devemos consolidar colaborações com taxonomistas, consultar acervos de museus e implementar coleções osteológicas de referências em nossas instituições.

Para se tornar um zooarqueólogo é necessário cursar, de preferência, uma graduação em Biologia (mas existem zooarqueólogos arqueólogos, historiadores e geógrafos). Ainda na graduação, é recomendável que o estudante realize estágio de iniciação científica na área, que o preparará para o desenvolvimento de uma pesquisa em um programa de pós-graduação. Uma vez graduado, o profissional pode prosseguir com seus estudos no mestrado e no doutorado, desenvolvendo dissertação ou tese que versem sobre alguma temática zooarqueológica. Em São Paulo, o Museu de Arqueologia e Etnologia, da Universidade de São Paulo (MAE-USP) é consagrado pela formação de zooarqueólogos que se titulam como mestres e doutores em Arqueologia

O Departamento de Biologia da UFSCar-Sorocaba iniciou pesquisas importantes sobre o registro zooarqueológico brasileiro. Por meio da colaboração com o dr. Arkley Marques Bandeira (responsável técnico e científico pelo Projeto CBioma, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Maranhão - Fapema), alguns alunos de graduação têm realizado estágios, estudando materiais de sítios arqueológicos do litoral maranhense. Em breve, esse material servirá como objeto de estudo de dissertações a serem desenvolvidas por mestrandos, nos programas de pós-graduação da própria UFSCar.

Mírian Liza Alves Forancelli Pacheco, docente em Paleontologia - Departamento de Biologia, UFSCar - Campus Sorocaba -
forancelli.ufscar@gmail.com
Gênero:
Artigo
Classificação:
UFSCar
Sub-classificações:
Artigos UFSCar - campus Sorocaba
Palavras-chave:
Paleontologia;Arqueologia;Zooarqueologia;Conservação;Departamento de Biologia
Zooarqueologia: uma nova área de atuação para o biólogo

Cruzeiro do Sul Sorocaba-SP em 2015-02-23 00:00:00.0 edição 33.700
