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Números de colunas:

4 Altura da coluna: 16,5 cm

Caderno:

Editorial

Texto na íntegra:

Marina Colasanti e eu andávamos pela Feira do Livro de Guadalajara, no México, e descobri uma qualidade a mais na minha amiga: via bons livros ao longe e, como sabe alguns de meus gostos de leitura, ia apontando. Resultado: enchi a mala: com os de minha escolha, que não eram poucos, e com aqueles que ela me sugeria.

Depois fiquei com medo de minha mala extraviar na volta, como a dela havia se extraviado na ida. E dito e feito: Lúcia Riff e eu chegamos sem malas no Rio. Mas no outro dia, foram entregues nas respectivas casas.

Marina e eu estávamos devendo umas gentilezas mútuas, afinal Affonso Romano de Sant'Anna, seu marido, trocava faxes com minha filha, quando a menina adolescia. Manuela ainda guarda essas correspondências.

Um dos livros que devo às prescrições médico-literárias de Marina é Las plantas en la Biblia, de Santiago Segura Munguía e Javier Torres Ripa, publicado pela Universidade de Deusto, de Madrid, 383 páginas.

Como sabemos e podemos conferir, ainda no primeiro capítulo do Gênesis, o Criador dá uma ordem que vem sendo cumprida desde tempos imemoriais: "produza a Terra ervas que deem sementes e árvores frutíferas que deem frutos, com sementes dentro, cada um de sua espécie". Os autores tomaram esses versículos para epígrafe.

Noé e Salomão usaram abeto e cedro para fazer a arca e o templo de Jerusalém, respectivamente. Sem contar que lanças, mesas de escrever, barcos e também o cavalo de Tróia foram feitos com abeto.

Depois é a vez da acácia, usada na fabricação de travessões (cobertos de ouro), casas, móveis, altares, etc. Era de acácia também a arca dentro da qual Moisés pôs as tábuas de pedra com os dez mandamentos.

Nos holocaustos, eram usados o cedro e o hissopo para fazer o fogo que assava a rês oferecida em sacrifício. E lã para começar as labaredas.

O cedro, além do mais, produzia uma resina chamada de Kedría, e de seu fruto se obtinha o cedrium, que dá nome à árvore, líquido como o azeite.

Outras árvores que pontificam na Bíblia em numerosas passagens: o olmo, o plátano, o cipreste, o carvalho, o salgueiro, o ébano.

Das frutíferas comparecem, entre outras, a amendoeira, o limoeiro, a oliveira, a figueira etc. A caminho da Terra Prometida, os hebreus refletem sobre o que comiam no Egito: "comíamos peixes, pepinos, cebolas, alho-poró" (que se chama também alho-porro).

Quando tiver lido todos os livros que trouxe, espero encontrar Marina Colasanti em outra feira para que me ajude a fazer novas escolhas. Certa vez ela ficou muito admirada de que o número do sapato que calçava era medido em tempos idos por graus de cevada. Tantos grãos, tal é o número que se calça ainda hoje.

Lembro que Homero confirma a Bíblia, pois diz que os trabalhadores que ergueram as pirâmides eram alimentados com rabanete, cebola e alho.

Eis um corte na leitura da Bíblia que eu nunca tinha feito. Obrigado, Marina!

(*) Da Academia Brasileira de Filologia, professor (aposentado) da UFSCar (SP) e consultor das universidades Estácio (RJ) e Unisul (SC).

Gênero:

Artigo

Classificação:

UFSCar

Sub-classificações:

Artigos UFSCar - campus São Carlos

Autor:

Deonísio da Silva

Pessoa citada/ entrevistada:

Deonísio da Silva

Palavras-chave:

Leitura;Bíblia; Pirâmides; Livros;

Cebola e alho na bíblia e nas pirâmides

Jornal Primeira Página São Carlos-SP em 2013-12-15 00:00:00.0 edição 6.841