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De fala mansa e pausada, o economista e compositor de música de cinema, calmo, confessa que deveria ser mais briguento, mas que seu espírito é conciliador. “Sou cauteloso, não sou arrojado, mas não perco uma oportunidade”.

Tanto é verdade que foi através da indicação de sua música ‘Ribeirão triste’, que fez parte da trilha sonora do primeiro filme produzido em Araraquara, ‘Santo Antônio e a vaca’, para o prêmio Saci de trilha sonora, que recebeu um convite do renomado Edward Freund para realizar a trilha sonora de outros filmes como “Férias no Arraial’ e ‘A vida quis assim’, recentemente exibido na cidade.

O fato é que Américo inegavelmente faz parte da história musical e cinematográfica da cidade. Ele possui todo o acervo de ‘Santo Antônio e a vaca’, ‘ Férias no Arraial’ e ‘A vida quis assim’.

O ‘bichinho’ do cinema mordeu Américo desde quando ele tinha a mais tenra idade. A prova é que ele convenceu o pai, por volta de 1952, a fazer um filminho caseiro. Assim foi feito um filme de 8 milímetros da família. Através de Ivo Dall’Acqua Jr., junto ao Sesc Araraquara, teve a oportunidade de mostrar grande parte do material cinematográfico através do projeto “Loucos por Cinema”, além de receber uma justa homenagem.

Em 2009 também recebeu homenagem da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), que promoveu uma mostra de filmes do interior paulista. “A sequência de filmes foi encerrada com ‘Santo Antônio’. Em 2010, no Sesi de Araraquara, através de Márcia Fiore e de Renata Pestana, apresentei composições num projeto voltado para o cinema. Também fui homenageado”, diz comovido.

A mãe de Américo, Iracema Oliva Corrêa Borges, foi educada em colégio de freiras. Era, segundo ele, um universo permeado de arte e cultura, principalmente musical. “Como filho mais velho tive muita influência dela, tanto que comecei a estudar piano com seis, sete anos. A minha professora chamava-se Dona Marocas (Maria do Carmo Ferreira), no Sesinho”.

Por volta de 1948, o Sesi havia criado o ‘Grêmio do Sesinho’ e, através da professora de piano Cleide Bonetti, os alunos participavam mensalmente de um programa na Rádio Cultura (PRD4) que acontecia aos domingos pela manhã com a duração de uma hora. “Tinha o coralzinho que cantava a música do Grêmio do Sesinho e, posteriormente, várias audições como a de piano. Se não me engano, nessa época foi formado o primeiro coral de Araraquara, o Coral infanto juvenil do Sesinho, que se apresentou no Teatro Municipal de Araraquara com a presença da diretoria do Sesi e alguns críticos. Fiz parte desse coral, eu tinha uns dez anos”.

E foi nessas audições que Américo começou a tocar, apresentado sua primeira composição em 1949, uma mazurka.

Assim, o menino foi se apresentando nos eventos da cidade levado pelas mãos de Dona Marocas, até que, em 1956, no IEBA, duas professoras, uma de espanhol e uma de francês (Fanny Marracini) realizaram um festival hispano-francês. O tema principal foi uma das fábulas de La Fontaine, Le Loup et l'Agneau (O Lobo e o Cordeiro). A direção ficou por conta de Wallace Leal Valentim Rodrigues. Os personagens principais da peça eram Aldo Benedito Pierre, que fazia o ‘maître de cérémonie’; Zélia Catarina de Oliveira, ‘agneau’ e ‘le loup’, Américo Aguiar Borges.

Naquele mesmo ano a aviadora Iná, que fez o script de ‘Santo Antônio e a vaca’, avisou Américo que Wallace iria fazer o referido filme com o pessoal do TECA, Teatro Experimental de Comédia de Araraquara. “Ela me disse que eu iria fazer uma música, um versinho para quem fosse fazer o papel da personagem Zica cantar. Convidei Jaime de Oliveira, que foi jornalista d’O Imparcial, e ele compôs a letra das músicas.

Em 1966, recebeu convite de Moacyr Gadotti para fazer as músicas do filme produzido por ele “A vida quis assim”, que seria dirigido por Edward Freund, o qual já conhecia seu trabalho. “Eu fiz toda a direção musical do filme que foi rodado em São Paulo”.

Américo também trabalhou entre 1969 a 1970 com a dupla em outra produção cinematográfica. “Fiz a música”. O filme era ‘Enquanto houver esperança’. Ele fez ponta em todos os filmes em que compôs as trilhas sonoras.

Um pouco de Américo
Américo nasceu no dia 14 de julho de 1938. Ele lembra com saudade da infância passada tanto em Araraquara quanto nas fazendas de seus pais em Taquaritinga e a de seus avós em Boa Esperança do Sul. Uma época em que se dormia deliciosamente em colchão de palha, pescar, pegar peixinhos com peneira, correr atrás de bezerros, andar a cavalo, subir em árvores, cair, se machucar, como no tempo da guerra, em 1942, em que caiu desceu a Guaianazes, hoje Djalma Dutra, caiu de uma altura de mais de cinco metros sobre manilhas e pior: de esgoto. A cicatriz do episódio já completou mais de 60 anos e uma outra feita na sola do pé que fez ao fugir do serviço de saúde que aplicava vacinas nas residências. Não querendo ser vacinado, subiu num telhado. Esperou o pessoal ir embora. Ao descer acabou pulando num fundo de garrafa. Mais um acidente e várias injeções antitetânicas no menino que não queria tomar apenas uma vacina. Coisas da infância...

A primeira escola foi o Carlos Baptista Magalhães, fez São Bento e se formou no IEBA.

Da II Guerra, ele guarda muitas lembranças como a de quando foi juntamente com a mãe comprar pão na padaria Pasetto (hoje Flório) e ficou impressionado com a imensa fila de virar quarteirão. “Era o racionamento da guerra. A gente sabia que era guerra. Eu era menino, mas me lembro das despedidas de alguns voluntários, dos rapazes de uniforme militar indo tomar o trem na Estação Ferroviária”, lembra.

O lado paterno da família sempre teve excelentes matemáticos e assim Américo acabou seguindo o que para ele era um caminho natural: fez o curso de Técnico em Contabilidade no Duque de Caxias e a Faculdade de Ciências Econômicas (hoje Moura Lacerda), em Ribeirão Preto.

Mas a música também faz parte de sua vida e ele acredita que a mesma é um dom. “De compositor de música de cinema tornei-me um escritor”, diz se referindo aos livros de sua autoria: ‘Introdução à Administração de Empresa’, pela Editora Ática; o segundo, um prêmio editorial através do Sebrae, que aborda o tema administração de material para pequenas e micro empresas. Já o terceiro livro é sobre educação, pela Fundação Itaú Unicef.

Foi assessor econômico em 1966 da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo, Faesp. Trabalhou na empresa Lupo, na US Top em São Carlos e por várias outras empresas, se aposentando em 1997. Participou de 1986 a 1994 do programa ‘Acontece’, pela Morada do Sol, como comentarista econômico.

Américo que já foi professor universitário na Uniara, onde se aposentou; Unifran,Unicep e da Fundação Educacional de Jaú, hoje atua como consultor de algumas empresas, além de ter um pequeno laticínio, a Fazendinha.

O pai de Américo, Júlio Teixeira Borges, foi um dos primeiros dentistas formados pela Faculdade de Araraquara, em 1927. Tem como irmãos: Cláudio, Cândida, Sônia, Fiico (Antonio) e Julinho.

Américo é casado com Mariana Mendes Borges há quase 42 anos, é pai de Luciana e Fabiana e avô de Laura.
Gênero:
Matéria
Classificação:
UFSCar
Sub-classificações:
Geral
Autor:
Célia Pires
Palavras-chave:
Compositor; Música de cinema; Filmes; Cinematográficos; Homenagem; Mostra de filmes; Santo Antonio;
URL:
http://www.jornaloimparcial.com.br/v2/index.php?menu=&tpconteudo=artigo&id=486&idc=3
Américo Aguiar Borges: um ícone na história cinematográfica da cidade

"Aprendi com minha mãe que oportunidade perdida é como água do moinho: não volta atrás!"

O Imparcial Araraquara-SP em 2011-05-22 00:00:00.0
