Clipping

Texto na íntegra:

Trinta anos após a fundação de São Carlos, ocorrida em 4 de novembro de 1857, deu-se a sessão da Câmara Municipal que confirmou o nome “7 de Setembro” à rua assim denominada até hoje. Ary Pinto das Neves descreveu o episódio: “Bem houve, portanto, a Câmara Municipal, reunida em sessão de 18 de outubro de 1887, ao dar as denominações de ruas abertas pelo gesto libertador de Dona Alexandrina e dos condôminos da Sesmaria do Pinhal, em atribuir à atual rua Sete de Setembro o nome que ostenta e que não foi modificado de futuro por outras Câmaras.” São, portanto, aproximados 130 anos de história. 

Por fazer parte do centro de São Carlos, a rua teve desde o início papel de destaque – estava incluída, por exemplo, no trajeto do bonde elétrico da Companhia Paulista de Eletricidade (operação de 1914 a 1962), integrando a rota de número 3 (Vila Nery – Estação). Também integra uma área com diversas construções históricas, grande parte delas ligada à cultura: a Praça Coronel Salles e seus prédios, o Teatro Municipal e, mais recentemente, o Espaço 7. Na praça estavam o Teatro São Carlos (primeiramente chamado de Theatro Ypiranga) e o antigo Cine São Carlos (ambos demolidos entre 1960 e 1970). O próprio espaço, em si, já abrigou diversos shows musicais, feiras livres e outros eventos culturais. Abriga ainda a Escola Estadual Paulino Carlos (edifício Paulino Carlos), aliando ao caldeirão histórico-cultural o âmbito da educação e da formação de novas gerações. 

Mais à frente na rua, em 1966, começou a funcionar o atual Teatro Municipal de São Carlos (oficialmente nomeado Teatro Municipal Dr. Alderico Vieira Perdigão). Com importância crescente no cenário nacional, movimentos culturais e concentração de imigrantes, São Carlos precisava em meados de 1950 de um bom teatro. Alderico Vieira Perdigão, então prefeito, idealizou o prédio em 1956 e no citado ano de 1966 se deu a inauguração funcional, com uma apresentação do Teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (TUCA). A peça foi Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto. Logo em seguida o prédio passou por reforma e foi inaugurado oficialmente em 1969 pelo prefeito Antonio Massei, com capacidade para 364 pessoas e com um teatro de arena. Foi a inserção no roteiro dos grandes espetáculos, com uma série de nomes e peças importantes apresentando-se lá. Com nova reforma, que descaracterizou a arquitetura original, o prédio foi reinaugurado em 2008 pelo prefeito Newton Lima Neto, com capacidade para 404 pessoas. 

O Espaço 7, por sua vez, é um centro cultural classificado como Ponto de Cultura (Ministério da Cultura) e leva no próprio nome a rua em questão (em julho de 2007, com o apoio da UFSCar, o local foi alugado pelo Projeto Contribuinte da Cultura e desde então passou a se chamar assim). O prédio foi projetado pelo proprietário (o engenheiro Fernando Barros) e construído com material de demolição, abrigando diversos eventos artísticos. Há atividades de leitura, projeções (com pequeno auditório aberto), apresentações, exposições de artes, oficinas, desenvolvimento de projetos, ensaios, debates, saraus, apresentações musicais, apresentações de teatro, formação de grupos de teatro, cursos modulares, etc.

Nota-se, enfim, que a Rua 7 de Setembro apresenta histórico e potencial de concentração de atividades culturais, no contexto da economia criativa. Configura-se assim uma oportunidade a ser abraçada não apenas em prol dos bairros adjacentes à rua, mas em prol de todo o município. Como entende Richard Florida (embora eu considere a sua visão um tanto redutora), atrair e fixar pessoas criativas “está para os negócios assim como ter acesso a carvão e minério de ferro estava para a siderurgia”. Já consolidada como centro de inovação e de alta tecnologia, justamente como em exemplos citados por Florida, São Carlos apresenta um campo aberto à cultura e à criatividade em geral, apesar de já haver algumas iniciativas relacionadas. É fato que o viés das universidades presentes na cidade, com mais (e renomados) cursos da área de Exatas (as diversas engenharias, por exemplo), contribui para um foco na inovação tecnológica (que também se associa, na verdade, à economia criativa).

Mas esse mesmo perfil também pode ser aproveitado no sentido cultural. Os diversos universitários presentes na cidade, considerando sua faixa etária e os respectivos conceitos e perspectivas da sociedade atual, são naturalmente mais propensos ao perfil criativo. E, como destaca Florida, isso pode ser estimulado pelo ambiente em que vivem. Posteriormente, então, novos indivíduos criativos podem ser atraídos por essa caracterização e não mais apenas pelos cursos universitários, criando-se um círculo virtuoso de empreendedorismo, cultura e criatividade. A designação “Atenas Paulista”, assim, poderia não mais se restringir à presença das universidades e indicar também um novo território criativo em São Paulo. Seria, aliás, uma aplicação ainda mais adequada da designação, já que Atenas destacava-se também como centro artístico e cultural. 

Nesse sentido, dentre as ações que podem compor uma estratégia municipal, está a maior utilização de ícones físicos: novas funções e usos para edifícios antigos e recuperação patrimonial, histórica e  identitária. Enfim, mais do que o que já tem sido feito no centro da cidade, e com foco no setor cultural. Outra iniciativa poderia ser a criação de um festival artístico que evocasse a tradição cultural da rua em questão (e posteriormente da cidade como um todo). Há ainda a possibilidade de circuitos turísticos, na linha da experiência britânica com personagens literários (visitação aos locais “percorridos” por Sherlock Holmes ou àqueles onde foram rodados os filmes da série Harry Potter). Em São Carlos, por exemplo, poderiam ser explorados os locais pelos quais “passou” Euclides da Cunha (o citado Grupo Escolar Coronel Paulino Carlos, que o teve como engenheiro de construção, o edifício da Câmara Municipal que leva o seu nome, a casa em que viveu – se não houvesse sido demolida). É fato que já há o reconhecimento dessa presença histórica em diversas iniciativas comemorativas e literárias, mas parece haver espaço para movimentos mais criativos e de proporções maiores. São Carlos tem realmente um campo aberto, e ainda com o fato de o nome da rua analisada ser extremamente sugestivo pela data que carrega (independência do país): a cultura, no contexto da economia criativa, pode proporcionar a independência econômica e social de muitos cidadãos.

israeljorge@israeljorge.com - www.israeljorge.com

Gênero:

Artigo

Classificação:

UFSCar

Sub-classificações:

São Carlos UFSCar - campus São Carlos

Autor:

Israel Jorge

Palavras-chave:

Espaço 7;Cultura.;Projeto;Contribuinte;Rua;sete;Setembro;economia;criativa;crônica;história;

URL:

http://www.jornalpp.com.br/colunista/item/90643-a-rua-7-de-setembro-e-a-economia-criativa-em-sao-carlos-uma-visao-cultural

A Rua 7 de Setembro e a economia criativa em São Carlos: uma visão cultural

Primeira Página São Carlos-SP em 2015-03-23 00:00:00.01970-01-01 12:28:00.0

Texto na íntegra:	Trinta anos após a fundação de São Carlos, ocorrida em 4 de novembro de 1857, deu-se a sessão da Câmara Municipal que confirmou o nome “7 de Setembro” à rua assim denominada até hoje. Ary Pinto das Neves descreveu o episódio: “Bem houve, portanto, a Câmara Municipal, reunida em sessão de 18 de outubro de 1887, ao dar as denominações de ruas abertas pelo gesto libertador de Dona Alexandrina e dos condôminos da Sesmaria do Pinhal, em atribuir à atual rua Sete de Setembro o nome que ostenta e que não foi modificado de futuro por outras Câmaras.” São, portanto, aproximados 130 anos de história. Por fazer parte do centro de São Carlos, a rua teve desde o início papel de destaque – estava incluída, por exemplo, no trajeto do bonde elétrico da Companhia Paulista de Eletricidade (operação de 1914 a 1962), integrando a rota de número 3 (Vila Nery – Estação). Também integra uma área com diversas construções históricas, grande parte delas ligada à cultura: a Praça Coronel Salles e seus prédios, o Teatro Municipal e, mais recentemente, o Espaço 7. Na praça estavam o Teatro São Carlos (primeiramente chamado de Theatro Ypiranga) e o antigo Cine São Carlos (ambos demolidos entre 1960 e 1970). O próprio espaço, em si, já abrigou diversos shows musicais, feiras livres e outros eventos culturais. Abriga ainda a Escola Estadual Paulino Carlos (edifício Paulino Carlos), aliando ao caldeirão histórico-cultural o âmbito da educação e da formação de novas gerações. Mais à frente na rua, em 1966, começou a funcionar o atual Teatro Municipal de São Carlos (oficialmente nomeado Teatro Municipal Dr. Alderico Vieira Perdigão). Com importância crescente no cenário nacional, movimentos culturais e concentração de imigrantes, São Carlos precisava em meados de 1950 de um bom teatro. Alderico Vieira Perdigão, então prefeito, idealizou o prédio em 1956 e no citado ano de 1966 se deu a inauguração funcional, com uma apresentação do Teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (TUCA). A peça foi Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto. Logo em seguida o prédio passou por reforma e foi inaugurado oficialmente em 1969 pelo prefeito Antonio Massei, com capacidade para 364 pessoas e com um teatro de arena. Foi a inserção no roteiro dos grandes espetáculos, com uma série de nomes e peças importantes apresentando-se lá. Com nova reforma, que descaracterizou a arquitetura original, o prédio foi reinaugurado em 2008 pelo prefeito Newton Lima Neto, com capacidade para 404 pessoas. O Espaço 7, por sua vez, é um centro cultural classificado como Ponto de Cultura (Ministério da Cultura) e leva no próprio nome a rua em questão (em julho de 2007, com o apoio da UFSCar, o local foi alugado pelo Projeto Contribuinte da Cultura e desde então passou a se chamar assim). O prédio foi projetado pelo proprietário (o engenheiro Fernando Barros) e construído com material de demolição, abrigando diversos eventos artísticos. Há atividades de leitura, projeções (com pequeno auditório aberto), apresentações, exposições de artes, oficinas, desenvolvimento de projetos, ensaios, debates, saraus, apresentações musicais, apresentações de teatro, formação de grupos de teatro, cursos modulares, etc. Nota-se, enfim, que a Rua 7 de Setembro apresenta histórico e potencial de concentração de atividades culturais, no contexto da economia criativa. Configura-se assim uma oportunidade a ser abraçada não apenas em prol dos bairros adjacentes à rua, mas em prol de todo o município. Como entende Richard Florida (embora eu considere a sua visão um tanto redutora), atrair e fixar pessoas criativas “está para os negócios assim como ter acesso a carvão e minério de ferro estava para a siderurgia”. Já consolidada como centro de inovação e de alta tecnologia, justamente como em exemplos citados por Florida, São Carlos apresenta um campo aberto à cultura e à criatividade em geral, apesar de já haver algumas iniciativas relacionadas. É fato que o viés das universidades presentes na cidade, com mais (e renomados) cursos da área de Exatas (as diversas engenharias, por exemplo), contribui para um foco na inovação tecnológica (que também se associa, na verdade, à economia criativa). Mas esse mesmo perfil também pode ser aproveitado no sentido cultural. Os diversos universitários presentes na cidade, considerando sua faixa etária e os respectivos conceitos e perspectivas da sociedade atual, são naturalmente mais propensos ao perfil criativo. E, como destaca Florida, isso pode ser estimulado pelo ambiente em que vivem. Posteriormente, então, novos indivíduos criativos podem ser atraídos por essa caracterização e não mais apenas pelos cursos universitários, criando-se um círculo virtuoso de empreendedorismo, cultura e criatividade. A designação “Atenas Paulista”, assim, poderia não mais se restringir à presença das universidades e indicar também um novo território criativo em São Paulo. Seria, aliás, uma aplicação ainda mais adequada da designação, já que Atenas destacava-se também como centro artístico e cultural. Nesse sentido, dentre as ações que podem compor uma estratégia municipal, está a maior utilização de ícones físicos: novas funções e usos para edifícios antigos e recuperação patrimonial, histórica e identitária. Enfim, mais do que o que já tem sido feito no centro da cidade, e com foco no setor cultural. Outra iniciativa poderia ser a criação de um festival artístico que evocasse a tradição cultural da rua em questão (e posteriormente da cidade como um todo). Há ainda a possibilidade de circuitos turísticos, na linha da experiência britânica com personagens literários (visitação aos locais “percorridos” por Sherlock Holmes ou àqueles onde foram rodados os filmes da série Harry Potter). Em São Carlos, por exemplo, poderiam ser explorados os locais pelos quais “passou” Euclides da Cunha (o citado Grupo Escolar Coronel Paulino Carlos, que o teve como engenheiro de construção, o edifício da Câmara Municipal que leva o seu nome, a casa em que viveu – se não houvesse sido demolida). É fato que já há o reconhecimento dessa presença histórica em diversas iniciativas comemorativas e literárias, mas parece haver espaço para movimentos mais criativos e de proporções maiores. São Carlos tem realmente um campo aberto, e ainda com o fato de o nome da rua analisada ser extremamente sugestivo pela data que carrega (independência do país): a cultura, no contexto da economia criativa, pode proporcionar a independência econômica e social de muitos cidadãos. israeljorge@israeljorge.com - www.israeljorge.com
Gênero:	Artigo
Classificação:	UFSCar
Sub-classificações:	São Carlos UFSCar - campus São Carlos
Autor:	Israel Jorge
Palavras-chave:	Espaço 7;Cultura.;Projeto;Contribuinte;Rua;sete;Setembro;economia;criativa;crônica;história;
URL:	http://www.jornalpp.com.br/colunista/item/90643-a-rua-7-de-setembro-e-a-economia-criativa-em-sao-carlos-uma-visao-cultural